segunda-feira, junho 20, 2011

A frieza da pele de quem não pode mais

  Fim de noite. Mais uma madrugada se apresenta.  O silêncio prevalece e toma conta de todos os cantos do cômodo, tudo parece tranquilo.
  Olho pela janela do meu quarto e vejo um homem passar. Um homem que não aparenta tanta simplicidade, parece estar vestido em trajes formais. Talvez esteja voltando de uma festa, talvez esteja caminhando noite afora, sem rumo, querendo refrescar a cabeça após um longo dia de trabalho em um escritório e uma noite de bebedeira com os amigos.
  Observei-o por algum tempo, não sei por quanto tempo o olhava, mas percebi que ele parara de andar e virara os olhos em minha direção. Hesitei. Desviei o olhar, mas não parei de ter a impressão de que ele ainda me observava. Engoli em seco e voltei a escrever no meu caderno, recolocando em prática meus estudos.
  Antes de dormir, sem olhar diretamente para a janela, fechei a minha cortina e deitei-me na cama. Virei para o lado e fechei os olhos, querendo descansar de mais um dia vivido. Apenas a luz fraca do meu abajur iluminava o quarto.
  No momento em que estava prestes a apagar em sono senti uma mão gélida em meu rosto. Em um salto sentei-me, eis que pude observar o rapaz de antes em frente a minha cama, iluminado na meia luz do abajur.
  Seu olhar era... Inexistente. Não consegui ver com precisão seus olhos. Notei que sua pele estava pálida, inteiramente branca. Seus lábios eram quase da mesma cor. Levei meus olhos para suas mãos e as vi ensanguentadas, então os corri pelo seu paletó e percebi a cor vermelha junto com o tecido preto.
  - Calma, minha querida. – Sua voz era tão gélida quanto suas mãos. Seu hálito cheirava rosas e o ar que saia de sua boca era frio, ambos os fatores eram tão fortes que eu conseguia sentí-los, mesmo com a distância entre nós. – Apenas vim aqui conversar um pouco.
  - C-conversar comigo? – Perguntei com a voz tão trêmula quanto meu corpo.
  - Sim. Sinto falta de conversar com pessoas como você.
  - Como você entrou no meu quarto? – Perguntei ainda no espanto com a situação. “Maldita hora que eu olhei para a janela”, pensei.
  - Entrei aqui como todos que querem entrar em suas respectivas casas. Resolvi visitar meu antigo lar.
  - Antigo lar? – Senti-me perdida, curiosa. Perguntei-me por alguns longos segundos se aquilo não era um sonho.
  - Sim, morei aqui alguns anos atrás. Essa foi a minha moradia preferida. Infelizmente tive que abrir mãos dessas paredes que tanto amei. Hoje em dia uma das únicas semelhanças entre eu e elas é a frieza de nossas estruturas.
  - Como? Desculpe-me, senhor, não estou entendendo.
 - Não precisa entender, querida. Depois que sofri um acidente e tive que desapegar-me de tudo o que amava em terra resolvi não tentar entender mais nada.
  Por mais que a situação parecesse complicada, achei que estava começando a entender o que o homem estava dizendo.
  - Agora preciso ir, moçoila. – O rapaz respondeu, suspirando mais uma vez com seu hálito gélido de rosas. – Minhas visitas a esse mundo não são constantes. Pelo curto tempo que conversei contigo deves entender porque sinto falta de diálogos assim.
  Após a última frase vi um vulto preto atrás dele, como quem o chamava. Olhei para a sombra recém-aparecida e a única coisa que pude observar foram as órbitas vazias de seus olhos. Então as duas imagens sumiram da minha frente.
  Acho que agora consigo compreender que as fases de nossa existência (não exatamente de nossa vida) não são sempre como queremos que sejam.

6 comentários:

  1. Gostei , bem interessante .
    Seguindo seu blog , segue o meu

    http://andyantunes.blogspot.com/

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  2. Belo texto!
    Gostei (:

    xxx
    http://admiravelmundonosso.blogspot.com/

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  3. Obrigada Janaína, por sua visita ao meu blog e por seu simpático comentario, já estou te seguindo.
    Bisous
    Melina Coury
    http://souriresetlarmes.blog.fr/

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  4. é seu mesmo??

    muito massa, cara. Curti mesmo, very good, rs.
    ^^
    parabés.

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  5. Olá, Janaína! Que bom receber a visita de uma colega. Muito obrigado, tá? Sabe, a minha proposta é espalhar conhecimento. Não tenho patrocínio, infelizmente, mas não desisto nunca! Ainda não consegui comentar sobre textos em prosa, pois adoro poesia. Quando "pintar" aquela vontade, eu começo e não para mais. Quero realizar um desejo: ter o maior blog de Literatura do país. Conto com você, viu? Divulgue, por favor. Aqui no Brasil é tudo muito estranho. Acredite: tenho maior número de seguidores em outros países, vai entender... Bem, desejo-lhe sucesso e prosperidade. Mantenha o excelente trabalho de "Letróloga Brasileira". Um abraço, amiguinha!
    Ps.: estou seguindo o seu maravilhoso espaço.

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